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Brasil, um país que deu certo.

 

Sim, o Brasil deu certo! Aqui não desprezo toda a miséria, corrupção, violência, insegurança e outras dezenas de mazelas presentes em nosso cotidiano, mas levo em conta um ponto de vista que mostra um Brasil lucrativo, pujante, organizado, uma verdadeira terra de oportunidades.

 

Se até este momento você não enxergou que o Brasil deu certo, é para você que escrevo este texto.

 

Por vários fatores o brasileiro não costuma estudar o seu passado e de como surgiu a ideia chamada Brasil, sem a mínima ideia do seu verdadeiro propósito. Muitos mitos foram consolidados ao longo dos séculos e colaboraram para ocultar algo que demoramos a perceber e dificilmente aceitamos; o Brasil sempre teve donos. Durante o período das capitanias hereditárias, tem início o Brasil que deu certo. Para se ter uma ideia clara, no final do século XVII, o lucro que o Brasil dava a Portugal já era cerca de 50% maior que o seu custo de manutenção. Fortunas foram criadas a custo de muito trabalho escravo e controle total da vida dos “homens livres”.

 

 “Sem açúcar, não há Brasil; sem a escravidão, não há açúcar; sem Angola, não há escravos”.

 

Mesmo sem a figura do donatário, os senhores de engenho se espalharam por Bahia, São Vicente, Pernambuco, Rio de Janeiro, adotando um modelo semelhante ao sistema feudal, e um trecho do texto de Stuart B. Schwartz, retrata bem o que era um engenho:

 

[...] eram verdadeiras cidades: escravos, administradores, trabalhadores livres e artesãos se reuniam nas lavouras, o que reduzia a necessidade de pequenas vilas rurais e comunidades. As capelas, por exemplo, encontradas em muitos engenhos, serviam como centros da vida religiosa. Além disso, nos primeiros anos da colonização, os engenhos também tinham uma função defensiva contra ataques indígenas, ou seja, cada engenho era “uma nação dentro de si”, conforme comentou um contemporâneo. Outros observadores ressaltaram que, por estar tão diluído nesses pequenos pontos isolados, faltava ao Brasil colonial o senso de comunidade e coesão social.

 

Com uma mudança na organização administrativa, o Brasil tornou-se uma colônia lucrativa tanto para a coroa, como para os donos de engenho. Essa bonança trouxe outros investidores e cobiça sobre a grande produção “angolana”. Para que o lucro fosse mantido, era importante melhorar as condições de transporte dentro das capitanias, surgindo vários portos que por sua vez deram origem a muitas das cidades que conhecemos hoje em nosso vasto litoral, núcleos urbanos que deram tão certo gerando em seu seio uma “elite urbana”, composta por mercadores portugueses e estrangeiros, advogados, inspetores, fiscais de impostos e oficiais do governo.

 

Aproximadamente em 1710 existiam 525 engenhos em toda colônia e 450 famílias controlando-os.

Até a segunda metade do século XVII a produção “angolana” ofereceu bons rendimentos, mas após as invasões holandesas a rentabilidade da colônia foi diminuindo cada vez mais fazendo com que o dono do Brasil, nesta época a coroa portuguesa, procura-se outras formas de mantê-la como uma colônia que dava certo. Logo se encontra ouro na região das Minas Gerais. Agora a região que hoje chamamos de sudeste passou a atrair investimentos, a capital foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro e o Brasil volta a cumprir seu objetivo principal, sanar as finanças portuguesas.

 

Com mais um sucesso brasileiro, pessoas de todos os cantos correram para regiões auríferas, buscando o enriquecimento rápido, porém para enriquecer neste lugar era necessário possuir escravos, equipamentos e terreno. Os donos do Brasil recebiam 1/5 (um quinto) de tudo que era extraído de suas terras.

Mesmo oferecendo rentabilidade aos proprietários e investidores, havia pessoas que não estavam contentes com o sucesso da colônia e sua organização. As revoltas foram esmagadas pelo bem da lucratividade, por uma colônia que dava certo.

 

Muitos foram os ciclos lucrativos, da pecuária, da borracha, do café, quase todos eles gerando boa rentabilidade, como afirmar que o Brasil colônia não deu certo? Mas até o tráfico humano passou a diminuir os lucros, era necessário um novo modelo, comprar, manter um ser humano cativo numa propriedade era muito mais caro do que contratá-lo como homem livre. Mesmo com resistência de muitos, alguns investidores de São Paulo já haviam percebido as vantagens do trabalho assalariado, atraindo centenas de milhares de europeus desejosos em participar da lucratividade brasileira.

 

Aqui chegamos a um ponto importante, com tantas pessoas prosperando, a Empresa Brasil era responsável pela manutenção de várias famílias, e alguns reinos. Era chegado o momento de uma nova diretoria, uma administração mais moderna que colocasse o Brasil mais uma vez entre os empreendimentos que deram certo. Apoiando-se num trecho na obra de Iná Elias de Castro - a lenda da fundação do Estado brasileiro, fruto de uma estratégia portuguesa da conquista territorial, criou uma falsa ideia de identidade nacional e unidade. Este imaginário, segundo ela, seria responsável por acobertar as diferenças e as possíveis reivindicações regionais, principalmente no século XIX.

 

De acordo com Castro:

 

No momento da independência, o território brasileiro era um desenho no mapa, não havia fronteiras definidas por acordos internacionais que garantissem a soberania sobre o território. No entanto, em nome dessa unidade territorial, todos os movimentos de caráter regional eram sufocados, mesmo os que não tinham reivindicações separatistas: no período colonial, em nome da integridade do Império; após a independência, para preservar o mito fundador da herança territorial.

 

Coloca-se o filho do antigo diretor no cargo máximo da empresa e para garantir a unidade dentro do grande empreendimento evoca-se a unidade linguística e religiosa associada a fé de que um empresa que sempre deu lucros será no futuro uma grande potência. Sobre uma nova administração, todos os ingratos e descontentes foram sufocados garantindo a rentabilidade dos investidores que agora se organizavam em oligarquias.

Passamos de uma colônia que garantiu o lucro de seus donos para um Império fiel a todos que investiram neste gigantesco empreendimento. O tempo, os conflitos, os símbolos e os discursos deram conta de convencer quase todos que passamos de empregados de um donatário a membros de uma nação. Porém, essa tarefa de convecimento tem ficado cada vez mais complicada.

 

Agora além de garantir a lucratividade, os investidores, as famílias e grupos que passaram séculos neste sistema, tem que garantir a unidade desta imensa mão-de-obra assalariada, cedendo algumas regalias. Nós, cidadãos comuns, trabalhamos muito para elevar esse país ao nível de grande economia. O Brasil, independente do regime, sempre foi fiel aos seus investidores e hoje se organiza em Brasília para garantir que isso nunca mude.

 

O que dificulta a nossa percepção é que tentamos entender o Brasil como uma república corrupta, mas ele não passa de uma empresa muito bem administrada, pois independente dos esforços da sociedade civil, as regras que regem o Brasil sempre preservaram as oligarquias e os investidores.

Então, são mais de 500 anos de sucesso, transformando suor de muitos, no retorno financeiro de poucos, que mesmo sendo poucos - justifica-se, pois foi para isso que o Brasil foi inventado, para ser um país que dá certo.

 

 

Comissões provisórias Pernambuco e Rio Grande do Norte.

 

 

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